Bioconstrução é alternativa para reduzir custos da habitação, diz secretário Matheus Barros 64x20
Na Série de Entrevistas com os secretários municipais de Maringá, Matheus Barros, da Secretaria de Urbanismo e Habitação, citou o problema da drenagem e os custos de moradia entre os principais desafios da pasta. Segundo ele, é possível mitigar os alagamentos com poços drenantes nas construções e pontos públicos específicos.

Produtos e matérias-primas mais sustentáveis e qualificação de mão-de-obra para utilização desses materiais podem ser a chave para que o custo de uma moradia seja menor, explicou o secretário. De acordo com Barros, a intenção da pasta é criar novos concursos para projetos arquitetônicos com soluções para questões urbanas.
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Confira a entrevista concedida à CBN Maringá: 1tv4m
Qual vai ser o principal desafio da secretaria?
— Olha, é difícil elencar um desafio específico assim para ser o maior. Algumas coisas que a gente vai ter que resolver em coordenação com as outras Secretarias logo de cara é como a gente quer que a drenagem urbana se comporte. Então, as chuvas têm aumentado consistentemente todos os anos. Então, o sistema tradicional de se construir drenagem não é funcional para os desafios que vão vir pela frente. Para isso, a gente já está pensando em trocar para sistema de drenagem sistêmica, poços de drenagem. Basicamente, ao invés de tentar fazer toda a água ficar eando pelos tubos de concreto embaixo da rua, a gente poder infiltrar essa água no solo o mais rápido possível. Então, trazer poços drenantes, trazer jardins filtrantes e biovaletas pode ser um começo para lidar com essa situação da drenagem urbana. Outro grande desafio, e esse é o que eu considero mais urgente, não só para Maringá, mas para a maioria das cidades do mundo, é a questão do custo de vida, o custo de habitação. Então, a moradia é a maior compra de todas as famílias em qualquer lugar do mundo e ela é um problema que eu percebi enquanto organizava viagens técnicas, enquanto visitava outras cidades pelo mundo, que não pode ser resolvido só aumentando renda. Então, até mesmo em países ricos, países que têm muito mais recursos do que a gente, é difícil para os jovens conseguirem comprar um apartamento, uma habitação. Então, a única solução tem que estar pelo outro lado, a gente tem que reduzir o custo da construção, reduzir o custo da execução dessas moradias. Para isso, eu acredito que bioconstrução e técnicas alternativas podem ser uma grande aliada e eu acredito que a gente tem como levar isso para a parte da gestão pública.
Hoje foi um dia que a gente já registrou muitos alagamentos, pontos críticos de transtorno e alguns pontos que são frequentes. E você citou algumas coisas que podem ser feitas, entre elas, as biovaletas. O que seriam?
— Então, de uma forma mais específica, o problema com os nossos sistemas de drenagem hoje é que eles focam em coletar toda a água que está escorrendo pelas ruas e que está sendo captada das calhas dos prédios e jogar nessa rede de drenagem pública 100% dela. Então, o objetivo da rede centralizada é jogar essa água toda dentro dos córregos. O problema é que, com esse aumento de chuvas, você está trabalhando com bitolas que foram calculadas numa época onde o histórico de chuvas era completamente diferente e, para você corrigir um sistema desse, exige grandes obras. Você precisa quebrar ruas, às vezes calçadas, para poder trocar essa tubulação por uma maior. E isso custa muito dinheiro para um problema que talvez se estenda de novo. Ao mesmo tempo, a gente está criando outros problemas por tratar a drenagem dessa forma. Toda essa água vai se concentrando e, quando ela chega nos córregos, ela chega com uma força muito, muito alta. E, se você visitar qualquer riozinho urbano aqui de Maringá, você vai perceber que as raízes das árvores estão peladas. A terra vai sendo toda levada pela força dessa correnteza, que é concentrada. Ela vai juntando a água da cidade inteira e jogando tudo no mesmo lugar. Então, isso acaba causando vários problemas, um atrás do outro, enquanto, ao mesmo tempo, a gente não está recarregando o lençol freático, porque a água do rio vai embora. Ela vai e infiltra em uma grande área. Então, ao mesmo tempo, a gente está tendo o descarregamento dos lençóis freáticos, porque os edifícios têm os seus poços artesianos, eles tiram água e o nosso sistema de drenagem não deixa repor. Para resolver esse problema, acaba ficando mais barato mudar para esse sistema de poços drenantes e de infiltração local. Então, exigir de cada empreendimento que ele perfure algumas áreas, encha com pedrisco para depois ir concentrar a água ali. Então, cada empreendimento vai começar a recarregar o lençol freático embaixo dele de novo. Não gera o problema do assoreamento dos rios, não precisa de obras caras e extensivas em cima da rede urbana para poder corrigir e dá para aplicar pontualmente em cima de bueiros. Então, a obra mais barata para, por exemplo, essas áreas que você comentou que alagam, que poderia ser executada, é justamente pegar o ponto do bueiro, que já está escavado, e perfurar no fundo dele para encher com pedrisco. Então, isso faz com que o bueiro agora, além da vazão que ele jogava para a rede de drenagem, ele consiga, às vezes, duplicar a vazão dele, porque (9:18) ao mesmo tempo ele também está infiltrando água. Então, é algo que a gente pode começar já agora, nesse início de gestão, para solucionar justamente os pontos críticos utilizando equipamentos que a prefeitura já tem, equipamentos que não são caros, obras que não são caras em geral.
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Como a gente pode reduzir os custos para a habitação?
— De uma forma mais ampla, é necessário olhar que a habitação, a moradia, ela é considerada pelo Estatuto das Cidades como um direito essencial, um direito de todas as pessoas, mas a forma de obter a habitação costuma ser um caminho mais longo. Então, a pessoa vai precisar de um emprego formal, por muito tempo, para poder utilizar uma parte da sua renda para adquirir um financiamento. E a gente está olhando para um preço médio de moradia, na casa dos 200 mil reais, para todas as faixas. O governo federal ajuda com uma parte de subsídio, pelo Minha Casa Minha Vida, mas o preço da habitação continua crescendo muito rápido. Outro caminho que raramente é explorado, e por um tempo no Brasil, no ado, ele foi muito mais comum, é de que às vezes as pessoas poderiam estar tendo mais efetividade trabalhando diretamente na construção de moradia. Então, isso não é para todas as pessoas, é especificamente para as pessoas em vulnerabilidade social, essa opção se torna mais interessante. Vamos analisar, por exemplo, a questão dos moradores de rua. Muito se diz que os moradores de rua não têm o interesse de sair da rua, porque eles não querem pegar um emprego tradicional. E, realmente, esse acaba sendo o caso muitas vezes, porque é difícil para ele entender que um compromisso de talvez 10, 15 anos de trabalho, muitas vezes por um salário mínimo, talvez acabe resultando em ele conseguir financiar uma moradia no final do processo. Ao mesmo tempo, o que ele realmente precisa é moradia, é comida, é o a uma comunidade. Então, desenvolver programas onde eles aprendam esse tipo de habilidade, como a bioconstrução, que diferente de outras habilidades mais pontuais, que geralmente são desenvolvidas em programas como costura ou outras atividades, onde ele ainda vai precisar ser contratado ou atender alguma demanda para poder ter uma renda, a bioconstrução permite que, em grupo ali, as pessoas que participarem de um projeto juntas de bioconstrução possam aprender a executar isso como um serviço juntos, como grupo. Então, eu sinto que pode ser simultaneamente um programa de capacitação, que ajude a construir habilidades de alto valor agregado para quem precisa. Diminui o custo da construção, porque quando se trata de bioconstrução, o custo do material é extremamente reduzido. Você consegue fazer com a terra do chão, literalmente. Na hora em que você cria programas convidando as pessoas para poderem ajudar a construir nesses conjuntos, e no caso da prefeitura de Maringá, a gente tem um fundo municipal de habitação com vários terrenos, com várias áreas, onde esse tipo de projeto pode ser testado. Você reduziu o custo do material, reduziu o custo da mão de obra, ensinou uma habilidade importante para quem, às vezes, está numa situação de vulnerabilidade, e essa mão de obra depois fica disponível na cidade para executar outros projetos de outros padrões. E ainda é mais sustentável, a gente está tratando de construção carbono neutra ou carbono negativa, às vezes. E isso é o que eu considero olhar pelo lado da redução de custo.