Atleta do Handebol Maringá se despede para jogar por time da Polônia: ‘Espero um dia poder voltar’
De muita tradição e cada vez mais se colocando entre os principais centros da modalidade no país, o handebol de Maringá segue produzindo e exportando talentos para o mundo. No último mês, a atleta Lauani Rocha, de 23 anos, foi anunciada pelo MKS PR Gniezno, da Polônia, e vai se apresentar ao clube em julho.
Antes, a jogadora ainda vestirá as cores de Maringá na estreia da Liga Nacional de Handebol (LNH), que acontece nesta terça-feira, 10, no Ginásio Chico Neto. Às 20h, o Maringá enfrenta o Torres-RS, e a partida terá entrada franca.

Natural de Floraí, Lauani joga handebol desde os 11 anos de idade e há nove anos se dedica ao esporte em Maringá. A meia-direita ganhou uma bolsa de estudos na cidade para jogar pelo colégio e recebeu oportunidades para treinar no time de Maringá. Desde então, a atleta ou por todas as categorias de base do clube até o profissional.
— Começou com o meu pai. Meu pai jogava. Ele me levou um dia no treino e foi onde veio a minha paixão pelo handebol. Meu pai usava o número 4. Hoje eu uso o número 4 também na camisa, representando o meu pai. Ele me mostrou o que era handebol — conta Lauani.
Entre títulos e grandes jogos, a jogadora fez parte de diversas conquistas no Campeonato Paranaense, Jogos Abertos do Paraná e Jogos Universitários. Com o desempenho, Lauani chegou à Seleção Brasileira Juvenil, para atletas até 21 anos, na disputa do Campeonato Sul-Americano de 2022, na Argentina.
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Canhota e que joga pela direita, a atleta destaca o seu jogo apoiado como diferencial, além dos chutes de nove metros. Mas é na intensidade que o técnico do Maringá, Marlon Araújo, enxerga o grande potencial da floraiense.

Biroto, como é conhecido, é treinador de Lauani há quatro anos e ressalta que o crescimento da atleta durante esse período foi crucial para que ela recebesse a oportunidade de jogar na Europa.
— A Lauani é uma atleta muito intensa. Ela se entrega muito, ela vai fazer tudo com muita intensidade, vai muito firme. Ela é uma atleta muito dura, fisicamente e emocionalmente. Essa é a qualidade dela — diz o técnico.
Rumo à Polônia
No início do ano, a jogadora do Maringá aceitou uma proposta do MKS PR Gniezno, da Polônia, clube com mais de 50 anos de tradição no desenvolvimento de crianças e jovens. A equipe foi campeã do Campeonato Polonês Júnior de 2022, além de assegurar o quarto lugar na Superliga Adulta da última temporada.
Países do Leste Europeu, os escandinavos, a França e, mais recentemente, a Espanha, são grandes forças do handebol mundial. O Brasil também se coloca neste lugar, tendo conquistado o Campeonato Mundial Feminino de 2013, ano em que a Polônia foi quarta colocada. A edição de 2031 terá a Tchéquia e a Polônia como sedes.
Pelo nível de investimento e pela relevância que o handebol tem para estes países europeus, Lauani acredita que pode evoluir ainda mais e, quem sabe, retornar para a Seleção Brasileira, desta vez na principal.

— Lá o handebol é mais forte, as ligas são mais competitivas. Então, por isso eu optei em sair do Brasil, para eu crescer, evoluir, aprender mais, sair da minha zona de conforto. Porque querendo ou não, o Maringá, por eu ter ficado nove anos aqui, virou minha casa, virou minha zona de conforto. Então, eu quero viver novas possibilidades. Poder crescer, evoluir em outro lugar e aprender.
Mas se engana quem pensa que foi uma decisão fácil. Lauani recebeu propostas de inúmeros clubes e, inicialmente, decidiu ficar em Maringá. A atleta sentia que ainda podia contribuir com o time da cidade, além de resistir em largar tudo o que já havia construído ao longo dos anos.
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— Foi muito difícil. Eu recebi a proposta, já tinha conversado com o Marlon para ficar no Maringá. Porque querendo ou não, a gente deixa todos, acabo deixando a minha família, mudando para outro país. […] Muitas coisas me seguravam, como a faculdade de Direito. Eu pensava em ganhar a Liga Nacional, a gente estava com uma equipe muito boa… Eu fiquei pensativa, mas a proposta foi muito boa, não tinha como recusar. E eu fiquei muito feliz, porque é um time bom, tem uma liga forte e competitiva. Foi difícil, mas pensando no meu crescimento, pensando no handebol, eu aceitei esse desafio.
Antes de arrumar as malas, Lauani vai jogar mais dois jogos pelo Maringá, nesta terça-feira, 10, e no dia 27, para então embarcar no dia 4 de julho. A jogadora segue treinando, mas já se prepara para viver em um ambiente completamente diferente do habitual.
— O clube contratou uma professora que fala português, que joga handebol também. Chegando na Polônia eu já vou começar a fazer aula de inglês. […] Vai ser tudo muito novo para mim. Eu pesquisei um pouco, vejo que é um país muito bom. Estou disposta a aprender, a entender a cultura deles, a me desenvolver com o time. Eu estou indo aberta.

O Maringá foi a minha casa por nove anos. Eu aprendi, evoluí. Foi onde eu chorei, foi onde eu cresci. Então, eu levo o Maringá como a minha casa, com muito amor, e espero um dia poder voltar e vestir essa camisa de novo.
Provas de um caminho certo
Muito além da evolução profissional de Lauani, sua transferência para o handebol europeu alimenta a iniciativa do projeto esportivo em Maringá, que sempre revelou grandes talentos.
— Para nós mostra a importância de manter os projetos esportivos. O masculino também já revelou muitos atletas, que foram para a Europa. O handebol de Maringá tem uma história a nível estadual, nacional e internacional. A gente trabalha no limite e acredita que poderíamos ter um pouco mais de apoio, para que a gente pudesse continuar revelando talentos, formando cidadãos e dando oportunidade de vida. Isso prova que o nosso projeto está no caminho certo — declara Biroto, técnico do Handebol Maringá.

Antes de Lauani, Maringá já foi a casa de grandes nomes do handebol brasileiro. A goleira Gabriela Moreschi, hoje jogando na Romênia, e Adriana “Doce” Cardoso, que atua em Montenegro, possuem grande carreira na Europa, brilham pela Seleção Brasileira e disputaram os últimos Jogos Olímpicos, em Paris-2024. Ambas foram lapidadas em Maringá e saíram ainda no juvenil.
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Mais recentemente, a atleta Maria Vitória, melhor jogadora e artilheira da LNH do ano ado, se transferiu para o handebol espanhol. De perfil parecido com Lauani, Maria Victória, natural de Boa Esperança, chegou à Maringá ainda muito jovem e já completou seis meses atuando na Europa.
Maringá e Torres duelam nesta terça-feira, às 20h, no Ginásio Chico Neto, pela estreia da Liga Nacional de Handebol 2025. Os portões serão abertos às 18h e a entrada é franca.